Eu tenho medo
Do pensamento ego centrado
Eu tenho medo
Do discurso doentio
Dos que se acham mais valiosos.

Tenho medo das falácias
Em nome da cura
Numa humanidade tão doente
Devoradores de sonhos alheios...

Eu tenho medo
Da lamina da palavra
Cortando tão profundo
Sangrando até a exaustão...

Que nesse mundo imediatista
Nada sobre para quem sonha...
Vivemos pelo que comemos
Pelo que possuímos
Pelo que jogamos na vala...

Eu tenho medo
Dessa hipocrisia coletiva
Você e você, eu sou eu...
Nada pode me alcançar
E a dor parece uma ferida aberta...

Eu tenho medo
Do tempo que cobre os vestígios
De quem um dia imaginou
Dias melhores...
Com a felicidade vestida de nuvens.

Eu tenho medo pelo futuro
Que nos espera, buraco negro...
Tenho medo de não ter feito mais...
Muito mais que você merecia...

Perdoa meu filho!
Achei que apenas meu amor te alcançaria
Que o dia a dia nos acalentasse
E nos ensinasse a nos reconhecer...

Pois o recomeço é sempre mais complicado...
Mas você não me pertence
Você não se pertence...
Mas eu tenho medo

Dos que querem que você se transforme
Num remendo do que seja normal
Eu só queria que nessa nossa existência...
Não tivéssemos tanto medo...
Você de abrir a porta do seu mundo
Eu, de um mundo que não te respeita!

Autora
Liê Ribeiro
Mãe de um rapaz que está autista.


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