Eu não falo sua língua
Eu não entendo a sua fala...
Eu moro em mim
Minha casa é o meu interior.
Eu vasculho seu olhar...
Eu fujo da sua vida...
Mesquinha e ilimitada
Sim, meus olhos vazam sua consciência
Eu vejo além,
Você está aquém de mim...
Eu não ouço o mesmo som...
As gotas de orvalho no jardim...
O canto dos pássaros na janela
Faz-me sonhar...
A dor de um grito, em meus ouvidos
O agitar das mãos me fazem voar...
O correr dos meus pés
É a fuga dos predadores.
Deixa eu correr, deixar eu cantar
Balançar o corpo como quem
Navega em alto mar
Eu vejo estrelas que você não vê
Eu flutuo em nuvens que você não sente...
Seus pés tão presos ao chão...
Nunca poderão me alcançar...
Nada é vazio em mim...
Tudo é mistério e uma nova percepção...
Nesse jeito inquieto e particular
Mesmo na casa vazia...
Há vida, há muito por aprender...
Não sou um réu condenado ao esquecimento...
Não sou a pedra no seu sapato...
Sou aquela peça, que bate em descompasso...
Que não sabe lutar contra o descaso...
Que depende do amor sem cobranças
Que espera pela água, pelo sal,
Pela vida que deve ser organizada
Esse cérebro auspicioso e desconectado...
Essa alma ansiosa por paz e liberdade...
Então me represente,
Ame-me como quem não vê diferença
Ensine-me a ser menos eu mesmo
Mas que isso me faça feliz...
Não preciso ser igual, nem parecido
Apenas eu sem envergonhar a sua vida!

Autora
Liê Ribeiro
Mãe de um rapaz que está autista!

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Espera um pouco,
Acordei,
É madrugada.
Nossa um frio congelante
Entra pela janela
Devo abraçar a lembrança
Cair das nuvens...
Eu sonhava,
Eu quis lembrar. E nada...
A vida é assim, tocável
Dia sim, dia não a gente repensa.
Mas há tantas coisas por fazer
Que a miserabilidade do recordar, se apaga.
Apaga as sensações, as lembranças,
Poucos vestígios de alguma felicidade.
Da vida nada levamos,
E perdemos tempo, pensando...
Da vida tudo deixamos,
Cada gota de suor,
Cada pedaço de pão,
Cada gole de água...
Deixamos à veste a vestimenta carnal...
Algum testamento,
Alguma lembrança...
Descendentes, todos desconhecidos entre si...
E se somos sós, deixamos o gato, o cachorro
A xícara ainda quente, de um chá amargo
Mas se é correto chorar, sorria.
Se for incoerente sofrer, reaja...
A dor é milagrosa, te cura da inércia
Faz de ti um sobrevivente,
Muitas vezes de você mesmo!

Autora
Liê Ribeiro
Paz e luz...

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É assim a poesia moderna.
Sem rimas, sem versos, sem traços irreais,
É assim que a mente pensa,
Que o coração bate,
Que a vida lhe inquiri...
Siga pela sombra.
Jamais se exponha...
Guarda suas digitais...
Preserva sua alquimia,
Não há milagres
Nessa civilização moderna
As orações são pré-escritas...
São materialistas...
É assim a poesia moderna,
A viagem especial...
A tecnologia avançada
As pessoas tão primarias
E tudo se faz vida,
Mas a vida, não se faz presente, em nada
Pois ela se perde nas tarefas diárias...
Todas tão materialistas...
Tão individuais com seu propósito
Mas há sempre um vazio...
Que somente se preenche
Se estivermos preparados
Se a busca for dividida
A!Esse frio de mãos...
A! esse frio de atos
A esse frio de poesia...
Sim, ela poderia aquecer-nos...
A leitura nas entrelinhas
Busca uma poesia nada concreta...
Uma roda de existências
Que se perderam...
E nunca mais se acharão...
Essa é a poesia moderna,
Que mata a poesia passada
Que se apaga com as estrelas...
E morre, sem ninguém para senti-la!

Autora
Liê Ribeiro
Paz e luz...

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