Devemos Continuar...



Há um desencanto de seres
Há uma solidão de atos
Há uma distorção de sentires...
Olho demoradamente para meu filho
Enxergo nele grandeza e pureza,
Um olhar brilhante em outra dimensão.

Mas seu sorriso solto
É para mim como um sol
Em meio a tanto cinza...
Hoje dançamos juntos
Ouvimos algumas melodias
Sua mão firme segurando a minha
E mundo se desintegrando lá fora.


Hoje já chorei de medo, imaginando.
Que mundo restará para ele
Sem minha presença.
Eu morreria por ele.
Eu daria cada instante de minha existência
Para que sua estivesse protegida...


Eu lhe mostro que a camiseta está do avesso.
Eu lhe ajudo a mudá-la.
Eu lhe abençôo antes de dormir,
Fico ao seu lado na hora de febre alta.

Eu lhe dou bronca pela atitude errada.
Meu filho não joga papel na rua,
Meu filho não fala mal dos diferentes
Meu filho é um ser diferente
Lindamente uma alma em aprendizagem.

Hoje, nossa tarde foi de uma paz singular
Meu filho dançou no quintal,
Pés literalmente no chão
A cabeça ao vento...
Brisa em seu rosto...

O que importa se todos irão reparar
Sua matéria adulta
Sua mente criança...
Esse é o meu rebento e demais ninguém...
Não quero matutar no amanhã
Mas em minhas noites de insônia


Pego-me pensando.
Numa possibilidade de sofrimento nele
Isso me dói como uma faca enterrada em minhas entranhas.
Que Sangra, sangra até eu adormecer.
Acordar e vê-lo ali sereno...


A! Pai conceda-me a dádiva da esperança.
De algum dia, qualquer dia...
Ver o amor ao próximo
Como uma realidade nesse planeta.
E que meu filho e os iguais a ele
Recebam esse amor sem cifras.


Autora
Liê Ribeiro
Mãe de um rapaz autista.
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Eu espero por um milagre
A realidade do dia a dia me consome,
Há sempre em meu olhar uma lágrima
Pronta para cair...


Um grito engasgado em minha garganta.
Eu espero por humanidade mais humana
Acordando a cada manhã...
O risco da extinção da pessoa.
Pela sobrevivência do selvagem...

Tempos idos e a revolução
Trouxe a tecnologia
Mas esqueceu de preservar o ser...


Eu espero por uma luz
Nessa escuridão de olhares céticos...
O que eu vejo no outro
É o que eu tenho dentro de mim...


Preciso limpar a gaveta do meu pensar
Jogar as réstias de ontem fora...
A crença pressupõe solidariedade.
E a minha voz um dia poderá se calar...
Meu poema se apagar da minha mente


Mas o que ficou de mim...
Será sempre a esperança
Que cada linha possa atravessar
As armaduras da matéria
E alcançar a alma de cada pessoa.

Esse é meu sonho
O milagre do amor
A vencer todas as resistências.
Replantando uma nova era...
E um planeta lindo para se viver
Quem dera em harmonia.


Autora
Liê Ribeiro
Paz e luz...

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