Meu filho deixa-me aqui!






Deixa-me aqui...
Pensas que não me canso
Não sou de borracha,
Essa carne, essa pele,
Esse sangue correndo nas veias.


Deixa-me aqui...
Tudo em ti é do avesso
Tudo em ti precisa ser conquistado
Revisado, repetido, repetido

Que mundo esquisito o nosso
Tudo embolado e cruel.
Não vives num mundo paralelo
Eu sei...

Mas não podes negar
Que esse mundo de cá
É demasiadamente difícil
Para sua mente.


Deixa-me aqui!
Hoje tua mãe precisa dela mesma
Dou-me há ti todo dia
Cada dia, vinte quanto horas.


Mesmo nas horas de vigília.
Tu estás em meus sonhos.
Às vezes correndo de mim
Às vezes tão perto.
Mas mesmo que não me compreendas


Deixa-me aqui
Um instante só
Preciso respirar meu próprio ar.
Não poderei soltar-te na vida
O mundo de consumiria.
Minha sombra infinita.


Mas dê um minuto, por favor.
Uma lágrima brotou de leve.
Um cansaço de corpo e de alma
Um carinho sempre roubado.


Amo-te demasiadamente
Para não olhar
Uma pouco para mim.
Quem eu sou?


Uma fortaleça vencida?
Uma armadura quebrada
Uma pessoa frágil
Tendo que ser forte.


Alguém que teve medo
Tanto medo de não alcançar-te.
Que quase me rendi
A essa maldita realidade do seu autismo.


Mas não se preocupe
Jamais desistiria de ti
Mesmo desistindo de mim muitas vezes.
Jamais te culparia por toda limitação.


Mas sinta a chuva lá fora.
Tente ficar quietinho por um minuto
Segure minhas mãos
Que tal adormecer?

Apagar as luzes do mundo
E por um segundo.
Ser somente eu e você!
Dois seres adormecidos das coisas.

Autora
Liê Ribeiro
Paz e luz
Mãe do Gabriel autista.

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