Poema para meus amores! Gabriel,Elvis, Mel....




Acabou o dia...
Estamos aqui,
Eu, Elvis, um cachorrinho lindo.
Deitado aos meus pés
A cadelinha mãe do Elvis
Do outro lado tomando conta de mim.


Após um dia escaldante
Uma brisa fria entra pela janela...
Uma tempestade caiu á tarde.
Parecia querer varrer o mundo de nós.
Relâmpagos zangados chicoteando no céu...
Trovões bracejando contra o silencio.

Mas nesse momento estou eu aqui.
Gabriel cochila no sofá.
Seu semblante tranquilo
Faz-me feliz...


Na penumbra da sala.
Somente a luz do monitor...
O programa favorito do Gabriel na televisão
E eu ouvindo musica com o fone de ouvido.
Algumas baladas,
Alguma musica MPB.
Musicas da antiga.


Sou antiquada... confesso.
Como pode uma aquariana
Adorar coisas do passado?
O presente tão vazio de sensibilidade.

Mas gosto de um muito obrigado.
De por favor
De bênçãos dos mais velhos.
De respeito pelo outro.


Devo acrescentar que esse
É o nosso mundo.
Adoro admira-lo.
Gabriel me encanta até dormindo.


Seus olhos cerrados.
Sua vontade de ficar aqui perto de mim.
Não agüentar e dormir.
Dou-lhe um beijo rápido
Ele sorri dormindo, nem abre os olhos.


Penso! Será que ele sonha?
E em seus sonhos...
Será que ele é ditoso e livre?
Encontra a quietude interior
Que tanto precisa.


Agora preciso acordá-lo para ir para cama
Mas se eu me levantar os cachorros levantam
Se eu correr eles correm
Acho que se eu morrer
Eles morrem.

O dia acabou a noite já vem alta.
Amanhã calçaremos nossos passos
E só pararemos a noite...
Assim é nossa luta, nossa labuta

O sentido da nossa existência...
Acordo Gabriel bem devagar,
Ele me olha meio assustado.
Vamos de mãos dadas para cama

Mas antes ele tem que arrumar
Seu calendário...
Desligar o rádio.
Dar uma volta pelo quarto
E deitar, eu espero e respeito.


Faço uma oração,
Ele se benze, é de costume.
Beija-me o rosto e vai para sua galáxia
Melzinha lambe sua mão.
Talvez o abençoando do seu jeito,
Saímos de cena e a lembrança sempre fica.


Preciso fechar as portas.
Arrumar nossa bagunça,
Lavar nossa louça, nosso pranto.
Preciso encerrar nosso dia.
A vida é tão simples
Mas seu simbolismo vive
Nas manias do meu filho.


Não são exageradas, porém
É sua maneira de estar no mundo.
Apago todas as luzes e minha dor.
Deito em silêncio,
Penso em toda trajetória
Para chegar até aqui...

Mel fica a beira da cama
Talvez cuidando de mim.
Faço-lhe um breve carinho
Elvis á muito já dormiu.

E mais uma vez penso;
Porque tememos tanto perder
Á quem nós amamos?
E se nós amamos mesmo
Deveríamos acreditar em nunca perdê-los.

De tudo fica algo...
Fica um pouco de nós em nossos filhos
Ficará de mim no Gabriel o meu amor.
Nossa semelhança, um cadinho de mistério.
Como as sensações de frio
E calor em nossa pele.

De tudo aprendemos algo...
Aprendi com autismo do meu filho
Que não há limites quando cremos
Aprendi amá-lo como peça de quebra cabeça.
A cada dia encaixando uma.

Fundimos nosso amor.
Ele com sua sensibilidade escondida
Eu com meus poemas para ele.
Assim, nessa miséria dos individualistas
Fingimos não ver.
Vestimos a manta da noite.
Sopramos às nuvens escuras e dormimos em paz!




AUTORA:
Liê Ribeiro
Mãe de um rapaz autista.

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