Poema de Indignação!




Eu tenho escrito sobre mim
E os meus sentimentos
Sobre a convivência
Dolorida e mágica
Com meu filho autista
Parece que não penso
Nesse caos da humanidade

Onde a morte
É cotidiana e banal
Onde os poderes
Apodrecem nas mãos de poucos...

Dói-me profundamente
A chacina não só dos seres
Mas dos sonhos...
A corrupção ato corriqueiro
Inegável, mas desmentida
Na maior cara deslavada.

Dói-me,
Na esquina
Ver o chão forrado de sujeira
Pessoas chutando
O cachorro faminto

Dói-me até a alma
A fome impedindo o futuro
De milhões de crianças
Mães sem elos
Pais sem comprometimento dói-me.

Dói-me essa política que já nasceu torta.
Que poderia
Ser extinta do mundo
Por falta de eleitores...

E se nos levantássemos
Por uma vida menos tecnológica
Mais humana e simples
O que nos impede?

As facilidades da vida cibernética e vaga...
Quem é feliz?
Quem pode carregar sua cruz Sozinha?
A facilidade nos imobiliza

Andar, andar e nada alcançar de seu?
Pois única coisa que realmente temos
Não tocamos, não limpamos, não sujamos
Está intacta esperando pela liberdade
Das asas de uma alma em evolução

O amor, cadê?
Morre nas dificuldades do dia a dia
O que somos?
Não é o que o outro vê
O espelho da feiúra
Que mora dentro da nossa retina...

Se limpássemos nossa forma de ver
Quantas belezas escondidas nós acharíamos
Padronizou-se o belo, esquecendo o interno.
Eu sofro, eu sofro

Pelo pássaro preso na gaiola.
Pelo humano preso no orgulho
Pelo bandido preso na criminalidade
Pelos poderosos presos no poder
Pelos ricos presos na riqueza
Pelos pobres amarrados na pobreza
Pobreza essa alimentada pela decomposição
Dos sentimentos menores...

Sim não estou só nos meus poemas
Não suporto a dor alheia
Se eu pudesse limparia todas as feridas
Aliviaria todas as dores.
As minhas que de vez em quando sangram

Se eu pudesse eu abriria todos os olhares
A névoa que ainda tem nos meus.
Para olhar para o outro ao meu lado... Que sofre.
E estender-lhe as mãos.

Fecharia todas as cicatrizes
Deixadas pelo destino, dores de outrora
Que jamais passam.
Dói-me o preconceito

O conceito religioso do certo e do errado
O pecado que foi criado
Para impedir as pessoas de serem felizes
Dói-me a divisão de etnias
De classes que na cova rasa são iguais

Dói-me a intolerância dos imperfeitos
Que vêem no outro seu próprio reflexo distorcido
Nessa récita condenada e cansativa
Do poema revestido de indignação

Digo-lhes que todos passaram
Todos aprenderam, todos darão conta dos seus atos
Talvez os materialistas  façam escárnio dessa poetisa tola
Que tal tudo acaba com a morte da matéria?

Meu filho autista passará pela vida
E sairá dela sem uma história...
Milhões de crianças mortas pela desumanidade dos adultos
Jamais serão felizes ou terão outra chance

Nada, nada nos espera... Além do vazio da morte.
Vazio esse que ninguém conseguiu
Preencher por completo
Fim! Morre carne, desaparece a pessoa.

Memórias que vão se apagando para os retardatários
A! Mas mesmo na mais improvável possibilidade
Os poetas acreditam nas vozes dos anjos
No mistério de um portal por onde atravessaremos

E como meu mundo não é desse lugar...
Nem mala, nem remorsos eu levarei
A conta exata da vida que tentei viver...
Darei conta, pagarei meus débitos...
E quem sabe aprenderei como é ser feliz...
Aprenderemos todos.


Autora
Liê Ribeiro
Paz e luz.

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